Uma das maiores incógnitas destes últimos tempos é como ficará o mundo após a pandemia. Ainda que uma data aproximada deste “após” divida opiniões, o que já se tem ideia é de que ele chegará de um jeito diferente.  O chamado “novo normal” incluirá as tomadas de decisões dos consumidores na pós-pandemia.  

Hábitos de populações inteiras devem mudar. Usar máscara, prática já adotada pela comunidade asiática há muito tempo, fará parte da rotina de outras regiões do planeta também. Assim como lavar alimentos, cumprimentar à distância e flexibilizar a jornada de trabalho por meio do homeoffice. Este último, atualmente, sendo considerada a única saída para a sobrevivência de muitas empresas, ainda que seus gestores relutassem à mudança em tempos normais.

Consumo e gestão de leads antes da pandemia

E quando se fala de hábitos, há também o do consumidor. Este, por sua vez, que antes da pandemia circulava livremente e comprava direto no PDV (algumas vezes por impulso), passou a consumir menos e/ou migrou para as plataformas digitais com entrega à domicílio. Tudo direto do conforto e segurança do seu lar e ao alcance de suas mãos. Ou seja, há diversas formas de atender a essa demanda. Inclusive, você pode conferir aqui algumas dicas de como vender online na quarentena.

Empresas que não possuíam um sólido e-commerce ou banco de dados de seus clientes, se viram sem direção após os decretos de isolamento social. Essas medidas acabaram acarretando uma verdadeira corrida para gerar leads, ou seja, clientes em potencial. Isso ocorreu das mais variadas formas, mas destacaram-se as estratégias de marketing de experimentação. Nestes casos, a empresa permite que o cliente experimente o seu produto gratuitamente por um período de tempo determinado. 

A reação diante do caos

Diversos serviços que poderiam ser consumidos em casa foram liberados para períodos de testes gratuitos. Sendo assim, o consumidor partiu em busca dessas possibilidades em uma tentativa de tornar mais produtivo possível o “tempo extra” adquirido em casa. E teve de tudo: streaming de audiobooks, programas de computador, os mais variados cursos e até psicólogo. 

O Brasil, frente a outros países, apresentou uma grande produção de lives de artistas em alta no mercado, transmitindo shows direto de suas casas. Muitas delas, inclusive, alcançando milhões de visualizações e quebrando recordes mundiais. Ainda que algumas tenham causado polêmica pelo número de profissionais envolvidos, foi uma saída encontrada pelas marcas para serem vistas durante o período de isolamento social, além de arrecadação de doações para pessoas afetadas direta ou indiretamente pela pandemia.

Do que já se têm de dados? 

Passados dois meses, após uma tensão econômica com previsões de recessão e redução do PIB brasileiro, já aparecem dados desse consumo durante o isolamento social. Em artigo recente publicado pelo PublishNews, o CEO da Bookwire no Brasil, Marcelo Góia, informou que a empresa distribuiu em ebooks, somente nos primeiros 45 dias de isolamento, 80% do volume de todo o ano de 2019. Em números, a empresa disponibilizou no ano passado uma média de 30 mil exemplares por dia, enquanto no período atual foram 190 mil títulos, entre pagos e gratuitos. Nesse mesmo período, a venda de livros físicos caiu 50% após o fechamento das lojas. 

Estes números apontam uma significativa mudança de hábito do consumidor brasileiro. Em março de 2019, em entrevista ao site da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares, presidente da instituição, apontava que as vendas de ebooks representavam apenas 1,09% das totais do mercado. Segundo ele, os brasileiros não liam textos muito longos em tablets ou smartphones

A mudança de paradigmas

Por outro lado, na chamada sharing economy (economia compartilhada), na qual grandes corporações oferecem compartilhamento de bens e serviços, a queda tem sido devastadora. A Uber, maior exemplo deste negócio, apresentou, no último dia 07, prejuízo de US$ 2,9 bilhões no trimestre por causa do Covid-19. O principal negócio da marca, o transporte de passageiros, teve redução de 80%. 

Outra grande empresa deste segmento, a Airbnb, oferece a possibilidade de hospedagem em casas particulares por preços muito mais baixos que os serviços tradicionais. Neste caso, os riscos de sobrevivência já são causados por uma queda exponencial no turismo, somada aos usuários que têm evitado se hospedarem nas casas de outras pessoas, preocupados com a possibilidade de infecção pelo vírus. 

O que vem por aí? 

Se até pouco tempo Uber e Airbnb eram consideradas empresas predatórias, ameaçando toda uma cadeia produtiva, agora se vêem do outro lado da moeda, enquanto produtos antes pouco atrativos, se tornam solução, como é o caso dos ebooks. O que é certo, até o momento, é que o comportamento do consumidor está mudando e vai mudar ainda mais. 

Criar novos hábitos de consumo está entre as atribuições mais difíceis encontradas por empresários novos e antigos. Não é fácil fazer o consumidor passar a comprar algo totalmente novo, mas, assim como toda a sociedade teve de se adaptar aos novos tempos, o cliente está tendo acesso a novas formas de satisfazer suas necessidades. E, quem se adequar mais rápido a essa demanda, largará na frente.